Japoneses são mais felizes no trabalho presencial do que os brasileiros, aponta estudo da Korn Ferry
- Redação
- há 6 minutos
- 4 min de leitura
Pesquisa também revelou outras curiosidades sobre o uso da Inteligência Artificial; Índia, Brasil e Oriente Médio são as forças de trabalho mais preparadas para a IA

As necessidades dos trabalhadores ao redor do mundo estão em constante transformação, impulsionadas por novas tendências, tecnologias e valores. Por isso, anualmente, a consultoria global de gestão organizacional Korn Ferry divulga o estudo Workforce, com o objetivo de compreender o comportamento da força de trabalho e orientar as empresas sobre como serem mais assertivas na gestão de seus talentos.
No Brasil, apenas 12% dos colaboradores se dizem satisfeitos com o trabalho em tempo integral no escritório. No Japão, esse índice é significativamente maior: 36%. Esse contraste cria um verdadeiro dilema para multinacionais, que precisam decidir se adotam uma política global padronizada para o ambiente de trabalho ou se adaptam suas estratégias às realidades regionais.
Rodrigo Accarini, Sócio e Líder da área de Soluções Digitais no Brasil, da Korn Ferry destaca que políticas universais de benefícios podem gerar insatisfação entre os colaboradores — algo, inclusive, já esperado. “É fundamental estabelecer uma estratégia clara e personalizada, alinhada à cultura da empresa. Isso se torna um diferencial competitivo na retenção e satisfação dos talentos. Mesmo sendo uma organização global, é indispensável compreender as particularidades regionais antes de definir qualquer diretriz que se aplique igualmente a todos os países”, afirma.
Infelicidade no presencial
A pesquisa revelou um dado preocupante: entre os trabalhadores que atuam em tempo integral nos escritórios, apenas 19% realmente desejam esse formato. Ainda assim, muitos empregadores têm tentado impor o retorno presencial. Para 48% dos entrevistados, o modelo híbrido seria o ideal, mas somente 27% têm essa possibilidade atualmente. Já 25% afirmam preferir o trabalho 100% remoto.
Brasil e outros países
O estudo também analisou os formatos de trabalho preferidos versus os atualmente adotados nos principais mercados globais. O Brasil ocupa a sétima posição entre os países com maior índice de trabalho em tempo integral no escritório (56,9%).
O regime de home office integral ainda é pouco presente no país, com apenas 12,7% de adesão por parte das empresas. No entanto, 27,6% dos profissionais brasileiros consideram o trabalho remoto o regime ideal. Já o modelo híbrido aparece como o mais desejado: embora adotado por 28,6% das companhias, ele é considerado o formato ideal por 55,4% dos trabalhadores.
Os resultados do Workforce 2025 mostram que, embora a maioria das empresas no mundo tenha retomado o modelo presencial, há uma parcela significativa dos profissionais que gostaria de ter menor frequência no escritório — ou até mesmo trabalhar 100% de forma remota.
O Japão, por exemplo, lidera o ranking com 69,6% dos profissionais atuando em tempo integral no escritório. Porém, mesmo nesse cenário, 39% dos trabalhadores afirmam preferir o regime híbrido e 14,8% gostariam de estar totalmente em home office.
Ranking dos países com maior índice de trabalho presencial em tempo integral:
Japão – 69,6%
Arábia Saudita – 65,8%
EUA – 63,9%
Índia – 61,2%
França – 60,1%
Austrália – 59,8%
Brasil – 56,9%
Reino Unido – 52%
Alemanha – 47,6%
Veja abaixo a tabela completa com os dados dos regimes por país.

Inteligência Artificial no Brasil e em outros países
Não é novidade que a Inteligência Artificial tem sido protagonista de muitos processos no ambiente de trabalho. O estudo Workforce, da Korn Ferry, também investigou como esse avanço tecnológico está se desenvolvendo ao redor do mundo — e trouxe revelações surpreendentes.
Embora Estados Unidos, Europa e Japão tenham sido historicamente os principais impulsionadores da inovação digital, os novos protagonistas são Índia, Brasil e Oriente Médio, que agora despontam como as forças de trabalho mais preparadas para a IA.
Os dados revelam que a maioria dos trabalhadores em economias emergentes se mostra otimista quanto ao impacto da Inteligência Artificial em suas funções, diferentemente de muitos países considerados potências tradicionais. O índice de uso da IA no mercado global é liderado por:
Índia (85%)
Arábia Saudita (84%)
Emirados Árabes Unidos (82%)
Brasil (80%)
EUA (61%)
Esses números indicam uma mudança no eixo de liderança tecnológica, mostrando que países em desenvolvimento estão cada vez mais preparados — e receptivos — à adoção de tecnologias emergentes no trabalho.

Treinamento e percepção sobre Inteligência Artificial nas empresas
“É curioso como a tecnologia está ganhando espaço e força em economias emergentes. Isso é positivo para o fortalecimento da força de trabalho em muitos países, mas também levanta um questionamento importante: como está o nível de conhecimento sobre o uso da IA na rotina de colaboradores e lideranças? E, claro, até que ponto os trabalhadores estão realmente capacitados para isso?”, destaca Accarini, da Korn Ferry.
O que o especialista ressalta se conecta a mais um insight revelado pelo estudo: os mercados que demonstram maior otimismo em relação à Inteligência Artificial também são aqueles que mais investem, de fato, em treinamentos. Os dados mostram que colaboradores treinados têm uma probabilidade significativamente maior de adotar a tecnologia no dia a dia.
Em contraste, mais de 75% dos profissionais na Índia e no Brasil relatam receber treinamentos consistentes em IA, enquanto, nos EUA, Europa e Japão, muitos trabalhadores relatam não estar recebendo capacitação suficiente. Essa diferença é visível também entre líderes e equipes: enquanto 78% dos líderes afirmam compreender a IA, apenas 39% dos colaboradores concordam com essa percepção.
Essa lacuna no treinamento não é apenas uma questão regional — ela está criando uma desconexão crítica entre os líderes seniores e suas equipes, como reforça Rodrigo Accarini, da Korn Ferry:
“A falta de preparo em IA, mesmo diante do uso crescente, faz com que muitos líderes subestimem o potencial da tecnologia, resultando em um desalinhamento entre a estratégia e a execução. Em contrapartida, é importante lembrar: CEOs com alto nível de conhecimento tecnológico tendem a conduzir organizações com maior crescimento anual de receita”, finaliza.
Metodologia
A Korn Ferry entrevistou mais de 15.000 profissionais em todo o mundo para entender como eles realmente se sentem em relação ao trabalho. A pesquisa Workforce 2025 incluiu participantes de diferentes níveis hierárquicos — de cargos iniciais até CEOs — em 10 grandes mercados: Estados Unidos, Reino Unido, França, Alemanha, Brasil, Emirados Árabes Unidos, Arábia Saudita, Austrália, Japão e Índia.